Como salmões doentes prepararam as Ilhas Faroe para o coronavírus

08 de abril de 2020 3 minutos
Ilhas Faroe coronavírus vista

Com pouco mais de 50 mil habitantes, as Ilhas Faroe registraram 181 casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus até esta terça-feira (7/4) e nenhuma morte. Sim, a população pequena e o isolamento geográfico – o arquipélago fica no Atlântico Norte, entre a Noruega e a Islândia – são trunfos para conter a pandemia, mas havia outro, bem menos conhecido – e, segundo os especialistas locais, até mais decisivo: o salmão.

Há duas décadas, a indústria pesqueira das Ilhas Faroe, que responde por 90% de suas exportações, foi quase dizimada pela anemia infecciosa do salmão; causada por um vírus, a doença matou cerca de 90% dos salmões do arquipélago. O episódio foi traumático, mas também criou as bases para que o pequeno país, um território semiautônomo que integra o Reino da Dinamarca, pudesse estar preparado para novas epidemias, como a atual.

Foi depois da crise dos salmões ocorrida no início dos anos 2000 que as Ilhas Faroe ganharam estrutura para testes em larga escala. Com isso, o arquipélago é hoje capaz de processar 600 testes diários em menos de oito horas. O laboratório e os equipamentos que integram a estrutura são usados para garantir a saúde dos peixes, mas, na pandemia, foram rapidamente adaptados para os testes em humanos.

Campeões mundiais em testes de covid-19

Esse quadro permitiu às autoridades locais uma resposta rápida e eficiente à covid-19. Quase 10% da população já foi testada para a infecção respiratória causada pelo novo coronavírus. Isso faz das Ilhas Faroe o país que, proporcionalmente, mais realiza exames no mundo para detectar quem já contraiu a doença.

Segundo Kristina Háfoss, que foi ministra das Finanças do arquipélago entre 2015 e 2019, as autoridades de saúde decidiram adaptar o laboratório e ampliar sua capacidade antes mesmo de o coronavírus chegar às Ilhas Faroe. As mudanças foram definidas em fevereiro, e o primeiro caso de covid-19 foi confirmado no dia 3 de março.

“Se os testes precisassem ser enviados à Dinamarca para análise, levaria dias até os resultados ficarem prontos. Isso não permitiria seguir a estratégia atual”, disse ela ao site Euractiv. A ex-ministra acredita ainda que o aproveitamento da estrutura teve a vantagem adicional de dar mais flexibilidade para a criação de uma rede de fornecedores. “Isso deve facilitar o reabastecimento caso acabem os estoques de kits para exames e outros suprimentos”, afirmou.

Esta não é a primeira vez que as Ilhas Faroe adaptam a estrutura de testes em peixes para grandes crises de saúde pública. Em 2009, o arquipélago teve uma experiência semelhante no combate ao H1N1, um subtipo do vírus da gripe responsável pela epidemia da gripe A (ou “gripe suína”, como chegou a ser chamada na época). O trabalho de 11 anos atrás preparou técnicos e equipamentos para a luta contra o coronavírus dos dias de hoje.

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